Protegido por montanhas, o atoleiro Stordalen é um planalto pantanoso com inúmeras poças de lama localizado no Ártico, extremo norte da Suécia. Um cheiro de ovo podre domina o ar. Aqui, o aquecimento global está acontecendo três vezes mais rápido do que no resto do mundo.
Pesquisadores estão estudando a terra congelada, agora em transformação, conhecida como Permafrost. O odor distinto que ele emite é de sulfeto de hidrogênio, também conhecido como gás do pântano. Mas o que preocupa os cientistas é outro gás que também está sendo emitido no local, o metano.
Os estoques de gases do efeito estufa, há muito tempo armazenados no permafrost, agora estão vazando. Estamos falando de 1700 bilhões de toneladas de carbono orgânico, quase o dobro da quantidade presente na atmosfera.
Observando os números, fica fácil perceber a preocupação dos cientistas. Conforme o permafrost derrete, por vezes formando crateras imensas ao redor do ártico, ele pode triplicar a quantidade desses gases na atmosfera e detonar uma bomba climática no planeta.
Another giant crater forms in the Siberian permafrost - blocks of soil and ice thrown hundreds of metres from epicentre on the Yamal peninsula https://t.co/iWTvVlumfs pic.twitter.com/lXD8Be90en
— Prof Jamie Woodward (@Jamie_Woodward_) August 29, 2020
Para se ter uma ideia, o solo congelado do permafrost cobre nada menos do que um quarto de toda a terra do Hemisfério Norte. Em algumas partes, o solo permanentemente congelado tem dezenas de metros de espessura. Mas em algumas partes da Sibéria, ele se estende por quilômetros abaixo da superfície e data de centenas de milhares de anos no ado.
Hoje, o permafrost a por um ciclo vicioso. Com o aumento da temperatura média em todo o Ártico, o permafrost começou a derreter. No líquido, bactérias do solo começam a decompor biomassa. Por sua vez, a decomposição libera dióxido de carbono e metano, acelerando ainda mais o aquecimento.
Se a situação continuar, o ecossistema inteiro do permafrost pode cair em um novo estado, completamente diferente do atual, perturbando o planeta inteiro. Edifícios construídos sobre esse tipo de solo já estão desmoronando ao redor da Sibéria. Nos piores cenários, a Floresta Amazônica pode se transformar em uma savana e as camadas de gelo sobre a Groenlândia podem sumir completamente.
Warning of collapse of buildings in Siberia's permafrost cities in next 35 years. https://t.co/OH1I3yO2zN pic.twitter.com/6AhdnBJ0TD
— The Siberian Times (@siberian_times) December 30, 2016
Claro, essas transformações não vão acontecer de uma vez. O degelo do permafrost fará o carbono vazar por décadas, talvez centenas de anos, em um processo muito lento que só afetará de verdade as próximas gerações.
O problema é que, de acordo com os estudos, esse processo já está além do controle humano. O degelo e a liberação de carbono continuarão mesmo se as emissões humanas forem cortadas. Nós ativamos um sistema que vai continuar reagindo por muito tempo. O que nos resta agora é entender como essa bomba relógio nos afetará no médio e longo prazo.