Atmosfera está perdendo umidade e tornando os eventos de seca mais extremos, diz novo estudo

Segundo os autores do estudo, a atmosfera da Terra está ficando mais seca, o que está tornando os eventos de seca em todo o mundo 40% mais severos. Veja aqui mais detalhes da pesquisa.

seca, estiagem
A atmosfera da Terra está ficando mais seca, e isso está fazendo com que os eventos de seca ao redor do mundo fiquem mais extremos, segundo o novo estudo. (Imagem gerada por IA).

Vários estudos têm mostrado que as secas estão ficando mais severas e frequentes ao redor do mundo. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), desde 2000, a frequência e a intensidade das secas aumentaram em cerca de 30% globalmente. E isso prejudica a segurança alimentar, hídrica e os meios de subsistência de milhões de pessoas.

E um novo estudo publicado recentemente na revista Nature mostra que a culpa disso não é apenas a mudança nos padrões de precipitação. A atmosfera terrestre está perdendo umidade, o que estaria tornando as secas mais extremas. Saiba mais abaixo.

Atmosfera menos úmida favorecendo secas mais extremas

Os autores mostraram que a crescente “sede atmosférica” - o que também é conhecido como Demanda Evaporativa Atmosférica (DEA) (ou ‘atmospheric evaporative demand’, em inglês) - foi responsável por cerca de 40% do aumento da severidade das secas globais entre 1981 e 2022.

O processo da DEA descreve a quantidade de água que a atmosfera precisa da superfície. Quanto mais quente, ventoso e seco o ar, mais água a atmosfera precisa.

Os pesquisadores explicam como isso acontece: os padrões de precipitação permanecem os mesmos, mas a DEA aumenta fazendo com que o “saldo” de precipitação diminua. Em outras palavras: a atmosfera está demandando mais água do que a terra pode perder.

As secas são geralmente atribuídas à falta de chuva; no entanto, os pesquisadores descobriram que a própria atmosfera está exigindo mais água do solo, dos rios e das plantas.

À medida que o nosso planeta aquece, a DEA aumenta, extraindo mais umidade do solo, dos rios, dos lagos e até das plantas. Com essa “sede atmosférica” crescente, os eventos de seca estão se tornando mais severos, mesmo nas regiões onde a chuva não diminuiu significativamente.

Outros resultados relevantes do estudo

Os pesquisadores também revelaram que a DEA não só agrava as secas existentes, como também expande as áreas afetadas por este fenômeno, por exemplo: entre 2018 e 2022, a área global afetada por seca aumentou 74%, e 58% desta expansão se deveu ao aumento das secas.

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Em 2022, a Europa enfrentou a sua pior seca em 500 anos. Na imagem, o Rio Guadiana, na Espanha, quase desapareceu em agosto daquele ano. Crédito: Thomas Coex/AFP via Getty Images.

O ano de 2022 se destacou como o ano mais atingido por secas em mais de quatro décadas; mais de 30% das terras do mundo experimentaram condições de seca moderadas a extremas.

As conclusões do estudo

As consequências do aumento da DEA são enormes, principalmente em regiões já vulneráveis à seca, como a África, a Austrália e o sudoeste dos Estados Unidos, onde a DEA foi responsável por mais de 60% da severidade das secas nos últimos anos.

Com as projeções de que as temperaturas globais irão aumentar ainda mais nos próximos anos, as secas tendem a ser ainda mais frequentes e severas. Por isso, governos e comunidades devem se preparar, e planejar levando em consideração esse fator: a DEA.

Como o estudo mostrou, o aumento da DEA – impulsionado pelo aquecimento global – está intensificando a severidade de secas mesmo onde as chuvas não diminuíram. E segundo os autores, ignorar isso significa subestimar o risco.

Referências da notícia

Warming accelerates global drought severity. 04 de junho, 2025. Gebrechorkos, et al.

The atmosphere is getting thirstier and it’s making droughts worse – new study. 04 de junho, 2025. Solomon Gebrechorkos.