Ano ado, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, as empresas mais poderosas do mundo se juntaram aos seus governos no compromisso de reduzir suas emissões de carbono a zero.
A atitude venerável, no entanto, foi uma mentira. Esta é a conclusão de um estudo publicado recentemente na Nature, onde uma análise de documentos e relatórios corporativos mostrou que essas empresas ainda não estão tentando mudar nada em sua conduta.
Para começo de conversa, apenas 3 das 25 empresas analisadas - A Maersk, a Vodafone e a Deutsche Telekom - se comprometeram claramente com a redução de emissões de poluentes. Doze das empresas não chegaram nem a fornecer detalhes claros sobre seus compromissos ou planos.
A gigante brasileira JBS, por exemplo, se comprometeu a garantir que suas operações de carne bovina não contribuam para o desmatamento. No entanto, em seus documentos, a empresa relata apenas as emissões de suas próprias operações e não as de seus fornecedores - o que, na prática, é o mesmo que nada.
O pior cenário possível é péssimo para todos. Meteorologistas alertam que incêndios florestais, secas severas, inundações e outros eventos extremos vão aumentar em gravidade e frequência caso as mudanças climáticas continuem sendo impulsionadas pela emissão de poluentes.
Investigação revela a extensão do desmatamento ilegal ligado à JBS, Marfrig e Minerva https://t.co/LPv7t3jY4Q pic.twitter.com/iH85hfVZ60
— JornalGGN (@JornalGGN) December 3, 2020
O relatório ressalta também a necessidade de criar um sistema sólido para avaliar e monitorar os compromissos climáticos corporativos, principalmente para promessas de zero líquido - onde empresas e países compensam suas emissões investindo em projetos florestais e de captura de carbono, por exemplo.
A partir deste ano, empresas serão obrigadas a divulgar riscos e oportunidades financeiras decorrentes das mudanças climáticas no Reino Unido. Ainda assim, a maior parte das iniciativas similares ainda não são bem estruturadas.
Por isso, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, deve nomear um de especialistas nas próximas semanas para elaborar padrões claros de medição e análise do compromisso climático de corporações e outras entidades não nacionais, como cidades e estados.
O objetivo final é criar um ciclo de melhoria contínua e positiva no qual as empresas líderes poderão se envolver, aprender e, finalmente, garantir mudanças transformacionais em toda a economia.
Se as grandes empresas derem o exemplo, todo o resto do mundo irá segui-las. Acompanharemos o desdobramento deste episódio ansiando pelo melhor.